Suelen Viana
16 de abril de 2015
Sobre dar aulas e aprender com elas
Desde os 17 que dou aula. Aos 14, aliás, eu já dava aula, mas de violão, ajudando a galerinha a dominar os acordes nas aulas de música do Tony Medeiro e do Léo em Parintins. Isso só porque eu tinha dedos longos e conseguia com facilidade realizar todos os acordes. Esse momento serviu para eu descobrir um caminho; não o de tocar (embora eu ame), mas o de ensinar. Com o passar do tempo, além de ensinar eu descobri que alí havia uma imensa porta aberta para o educar. De repente eu já não conseguiria mais separar educação de ensino.
Ando sempre na descoberta de um novo caminhar nesse sentido. Depois disso estreei em sala de aula, aos 17 anos, como prof de língua portuguesa e literatura e logo em seguida como prof de inglês. Com o tempo entreguei-me a linguistica nas universidades e às tecnologias da educação um pouco mais tarde também nas universidades, com aula na pós graduação. Há pouco mudei para o Rio de Janeiro e antes de vir para cá eu estava me dedicando ao Gente Limpa, um trabalho voluntário para educação ambiental e manejo de lixo. Enfim, sou professora desde que descobri o lápis, eu acho.
Porém, eu jamais me havia aventurado na educação infantil; ramo do qual eu me havia esquivado totalmente e voluntariamente. Por quê? Porque sempre tive medo de crianças. Elas sempre foram para mim aqueles seres fofinhos, mas assustadores. A minha primeira tentativa foi com uma turma de 6 anos na Cultura Inglesa, em Manaus, que resultou num desastre com crianças correndo e gritando “eu sou um monstro”. A segunda foi no Yazigi em Florianópolis, onde de certa forma tive mais sucesso com os pequenos que pareciam gostar de minhas aulas; no entanto, esses pequenos já tinham quase 9 anos. Preciso dizer aqui que Cultura Inglesa e Yazigi de Florianópolis foram os lugares que mais me deram oportunidade de amadurecer e viver o despertar de muitas descobertas na minha vida de professora. Descobertas iniciadas bem antes, é verdade, mas cujas práticas precisavam acontecer mais conscienciosamente e isso começou por alí.
Voltando ao assunto, para minha surpresa e pânico, aqui no Rio de Janeiro eu me vi diante do inevitável: a sala de aula infantil. Infantil mesmo, de 3 a 5 anos. Claro que eu quis sair correndo depois do primeiro mês de aula e ainda quero às vezes, mas outra coisa mais forte tem acontecido. Eu tenho amado a descoberta das crianças, da Suelen professora de crianças e da educação infantil como um todo. Quando voltei para Manaus eu comecei a trabalhar no Icbeu, cujas portas me foram abertas com muita alegria por meus colegas de trabalho que conhecia desde tempos de Cultura Inglesa e que haviam se tornado queridos amigos. No Icbeu eu descobri mais do mesmo. Descobri a parte cultural do ensino de inglês e do ensino em geral. Descobri que uma galeria de arte e um bom audirorio reservam grandes oportunidades de encontros e saberes. Foi alí que descobri também o novo mundo das tecnologias educacionais o qual até hoje me encanta. Se fosse preciso criar um comparativo eu diria que a saudosa Cultura Inglesa e o dinâmico Yazigi de Floripa serviram de berço para minha boa formação na prática educacional da língua inglesa e que o ICBEU em Manaus e a Universidade Federal foram meu debut na fase adulta e mais madura dessa formação de práticas educacionais.
Do ICBEU-Manaus segui para o Ibeu-Rio, onde ainda estou. E é aqui que uma nova descoberta acontece e algo muito importante se confirma: é só mesmo com um caminhar atento que se ganha a virtude de aprender com o caminho. O caminho se torna um personagem real em nossas vidas. Quase que dialoga com a gente. Para qualquer profissional o caminho sempre oferecerá pedras e espinhos, mas também oferecerá flores, água e para os mais sortudos, sombra refrescante. Os bastidores, a agitação de políticas internas de um ambiente de trabalho, os relacionamentos, a nossa postura dianteira de tudo isso serão cruciais ou não para seguirmos caminhando. Não há aquele lugar perfeito para trabalhar, às vezes ganha-se bem, mas há o outro lado; outras vezes há um super ambiente profissional mas no final o salário não paga as contas… De tudo isso eu aprendi que é preciso ter uma balança precisa onde tudo deverá ser pesado: os condicionadores internos, os externos e o mais importante: o nosso trabalho (não o nosso emprego). O nosso trabalho no sentido de o que temos feito. Se temos levado a sério nossa conduta profissional, se a estamos respeitando, se estamos nos realizando e se estamos aprendendo com isso. Enfrentar caras feias, puxões de orelha, julgamentos injustos ou salários risórios, não devem ser o suficiente para desviar nosso bem fazer quando somos profissionais e sabemos e respeitamos quem somos. Nossa ira e vontade de mudar o sistema não devem interferir na nossa construção profissional. Isso eu tenho aprendido. Felizmente, onde quer que eu tenha realizado meu trabalho, eu tenho aprendido sempre. Aprendi a dar um passo atrás para dar sempre dois alegres passos à frente. Além disso, tive a imensa felicidade de encontrar pessoas incríveis em todos os lugares onde estive, pessoas que mesmo sem saberem me ensinaram muito.
Pois bem, do Ibeu-Rio eu não sei exatamente onde meu caminho, esse meu parceiro constante me levará, mas o caminhar é certo; e por hora eu quero exercitar a minha doce curiosidade epistemológica de mãos dadas com esses pequenos de 3 e 5 anos. Em pouco tempo eles me ensinaram mais sobre a nossa sociedade, sobre mim, sobre quem somos do que meus livros. É por aí que segue meu caminhar com o despertar de um novo olhar para um caminho que segue e segue e segue…
O caminho aliás é compulsório, ele se revelará sempre a nossa frente, com seus ramais e bifurcações que serão de nossa responsabilidade escolher; o caminhar porém é mais frágil que o caminho e é preciso ser forte e estar atento para que ele não siga apenas a trilha de algum outro caminhante.
To be walked…