A grande crítica de Labov ao modelo saussuriano e chomskiano é baseada no fato de estes modelos se dedicarem exclusivamente à contemplação de seus próprios idioletos (cf. MONTEIRO, 2000) e de não abrirem perspectivas a análises lingüísticas de enfoque social.
Weinrich, Labov e Herzog (1968, p.162) trazem a noção de heterogeneidade lingüística, que prevê a língua como um sistema heterogêneo, ou seja, ao contrário de ser um sistema fechado, fixo e homogêneo a língua é, na verdade, um sistema de regras variáveis e categóricas que dão conta da sistematização de um possível ou aparente “caos” lingüístico.
A idéia de que existe um falante-ouvinte ideal e de que as comunidades lingüísticas são homogêneas não se sustenta e, como lembra Tarallo (1985, p.6), a cada situação de fala em que nos inserimos e da qual participamos, notamos que a língua falada é, a um só tempo, heterogênea e diversificada. A proposta da sociolingüística é de buscar a sistematização dessa heterogeneidade, ou do que Tarallo chama de “caos aparente”.
A concepção heterogênea de língua defendida por Labov é resultado da assunção definitiva do aspecto social da linguagem que traz em seu bojo o estudo dos diversos condicionadores sociais que operam na variação e mudança lingüística. Como lembra Dorian (1994 apud MONTEIRO, 2000, p.58), “a heterogeneidade lingüística reflete a variabilidade social e as diferenças no uso das variantes lingüísticas correspondentes às diversidades dos grupos sociais e à sensibilidade que eles mantêm em termos de uma ou mais normas de prestígio”.
Por esse ponto de vista, a variação lingüística é um processo natural na língua e está fortemente condicionado socialmente. A língua só dá conta desse processo porque é heterogênea e opera com regras variáveis.