Hey teacher, leave the kids alone!

Eu estou rouca, minha garganta dói e estou febril. Minha cabeça está parecendo uma bomba relógio. Tem tanta pergunta martelando aqui dentro ainda; umas vem aos berros. Minha vista está embaçada. Tem tanto movimento no ambiente. Pernas e braços passando que já nem consigo distinguir. Risadas, choros… No final de todo dia assim eu me pergunto: por que apesar disso sinto tanto prazer nisso?

Estou falando de minhas aulas com meus kids 1A. São três turmas de alunos entre 8 e 9 anos de idade. Toda aula é a mesma rotina louca. È um puxa, repuxa, procura, não vejo, não sei se era a menina ou o moleque caçando um percevejo. Dar aula para crianças é uma atividade desafiante e provoca ao mesmo tempo um sentimento inexplicável de prazer e de dor. Dar aulas para crianças iniciantes convenceu-me de minha missão como professora. Professar, professar, professar…

-Stop, please! -Come on! -Let’s listen and color! -No, silence. Please!-João!-Sit down!-Yes!-This is it!-Very good!-Excellent!-Teacheeeer! – Can I go to the bathroom?-Teacheeeer! It’s cold inhere!-TEACHEEEER! O Mario pegou no meu braço! 

Logo quando comecei a dar aulas de inglês e tive a minha primeira turma de kids, eu lembro-me bem que quase fui à loucura. No meio do caos eu sentei no chão e chorando pedi para que eles me ouvissem só um pouquinho. Disse: gente, vocês não são monstros, vocês são crianças! Se não existisse naquele grupo o danado do Daniel eu certamente teria comovido a alguns pequenos brilhantes. Mas o Daniel simplesmente subiu na cadeira levantou os braços e gritou: “Deus ouviu as minhas preces! Eu sou um monstroooo!” O resto da turma simplesmente adorou e fez o mesmo. Todos subiram nas cadeiras. Eles só tinham 6 aninhos. Lá foi a tia Su para a coordenação. 

Mas como já disse é inexplicável. Todos os dias aprendo que criança é a melhor obra de Deus. Todos os dias eu me rendo à beleza que há em ser criança. Não importa o tamanho da bagunça que façam ou da dor de cabeça que dêem eles serão sempre amáveis e te dirão de braços abertos que te amam. Algumas vezes até dizem que te odeiam, mas não demora para voltar a te amarem novamente. Sem contar as piadas que contam; os sorrisos largos e irresistíveis. Os discursos prontos que parecem de gente grande. Os mimos vindos em papeizinhos coloridos escrito “Teacher I love you”. Ah essas crianças!

Estou cansada, com a garganta doendo e febril, mas meu sorriso está no rosto porque lembrei-me de novo daquele moleque fofinho que é o Guilherme. Ele é esperto, conhece de tudo um pouco, resolve seu problemas e sempre se sai com cada uma. E o Luan que outro dia ao ser perguntado se havia tomado café da manhã me disse: sim tia. Tomo sempre. Minha mãe não esquece daquela meleca (fez careta) de aveia para me deixar fortinho e nem do meu leite condensado para me deixar beeeem feliz (sorriu lindamente). Outro dia fazendo a chamada eu ouvi (e meio a “present, I am here, here…”) um doce “I’m foda”. Eu olhei e perguntei se ela sabia o que estava dizendo. Ela prontamente disse: sim teacher. Meu irmão disse que foda é todo mundo que é bom em video-game. Eu sou boa e ele me ensinou a dizer I”m foda. Eu logicamente não consegui conter o riso.

Vou tomar remedinho e comer um pouco de leite condensado para ficar beeeeeeem feliz. 🙂

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